Situação é de colapso nos hospitais do Oeste de Santa Catarina (Foto: Mauricio Vieira/Secom)
O colapso dos leitos de UTI no Oeste de Santa Catarina, desenha-se desde o final de 2020. Números da secretaria de Estado da Saúde mostram que nos últimos meses do ano a ocupação das unidades de terapia intensiva subiu gradativamente. Em 29 de dezembro, por exemplo, haviam 66 pessoas internadas com Covid-19. Nesta semana o número é de 75. A prefeitura de Chapecó, maior cidade da região, admite agora que o cenário é de colapso.
Medidas de restrição foram tomadas para conter o avanço do coronavírus, diferentemente do começo de janeiro, quando as regras apontaram para ampliação nos horários de diferentes setores. A mudança de entendimento veio na sexta-feira à tarde, quando o município disse ter percebido um agravamento do quadro. Nesta segunda-feira, diante do colapso, a prefeitura iniciou uma campanha contra aglomerações.
As contaminações tiveram uma aceleração nos últimos dias após um arrefecimento, principalmente desde 27 de janeiro, mas é importante que se coloque na discussão o final de 2020 para o entendimento de que os sinais eram preocupantes. No dia 12 de dezembro, quando SC teve a maior ocupação geral de leitos de UTI, os espaços para adultos na saúde pública do Oeste catarinense eram de 99,11%, o maior número em comparação com os demais pontos do Estado. Mesmo assim, não havia informação de alta quantidade de transferência de pacientes para outras regiões.
Neste começo de 2021, principalmente neste mês de fevereiro, o Estado montou o que o secretário de Saúde, André Motta Ribeiro, chama de “operação de guerra” para atender o Oeste.
Em entrevista a este colunista, na última semana, Motta Ribeiro analisou o cenário do Oeste e destacou a responsabilidade dos municípios no enfrentamento à crise:
- Se a gente olhar para o Extremo Oeste, por que a região desde novembro continua com quase 100% de ocupação das UTIs? Alguma coisa lá está acontecendo muito errada. Por isso que é importante esse compartilhamento de gestão, porque é o município que sabe o que está acontecendo lá. Não sou eu, não posso, por exemplo, baixar uma regra geral para o Estado fechando os clubes aos finais de semana porque Chapecó está com 100%. Aí no Sul do Estado está com 30%. Algumas atitudes mais restritivas têm que ser tomadas, eles não podem fugir disso. Tem que fiscalizar o que foi regrado, é uma fala minha de muitos meses.
Para o secretário, houve um “descontrole” no Oeste. Segundo ele, “as pessoas estão descumprindo regras”. Por conta disso, a partir do mês de janeiro a curva voltou a subir consideravelmente até o colapso instalado, principalmente em Chapecó, onde os hospitais públicos e privados estão saturados.
As causas do colapso, segundo especialistas
A coluna ouviu dois especialistas da região Oeste sobre o atual cenário de colapso. Para Caroline Ponzi, médica infectologista que atua na linha de frente no hospital da Unimed em Chapecó, um dos motivos para o atual cenário na principal cidade da região está na liberação das atividades, dando a entender à população que a situação pandêmica estava sob controle.
- Isso, aliado à fadiga do cuidado (todos cansados de se cuidar), às festas de final de ano, férias no litoral na primeira metade de janeiro, comemoração do título da Chapecoense e falta de responsabilidade da população como um todo foram definidores para que chegássemos ao colapso.
Para os próximos dias, a infectologista enxerga que ainda haverá algumas semanas de muitos casos, hospitais lotados e pessoas buscando atendimento. Para ela, “deve-se restringir o máximo possível a circulação de pessoas, aplicar multas pesadas para estabelecimentos comerciais que não cumprirem à risca o distanciamento social e as medidas de prevenção, e multas às pessoas que ainda insistem em andar sem máscara na rua, ou que ainda insistem em se aglomerar”.
A contenção da contaminação também é o ponto destacado por Paulo Barbato, especialista em Saúde Pública da Universidade da Fronteira Sul (UFFS). Para ele, o agravamento ocorre por conta da alta circulação de pessoas nas últimas semanas. Barbato compara o momento atual com o outro pico da pandemia registrado no Oeste, em meados de 2020. Naquela situação, segundo ele, a origem estava na circulação das agroindústrias. Agora o cenário é outro.
- Muitas pessoas sem máscaras. As pessoas foram relaxando, aquela normalização que vai se tornando rotineira.
A solução, aponta o especialista, está no aumento da testagem e no controle da proliferação do coronavírus.
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